domingo, 21 de outubro de 2007

Os Dois Pecados de Psique


(Eros e Psique, Antonio Canova)

Morpheu faz cortesia esta noite.
Languidez voluptuosa do poder que nunca tive
Erro de Psique em querer facetar Eros
Estender luz ínfima à penumbra que o deleita
A permitir adentrar-lhe as pupilas dilatadas
Que se cegam à presença da clarividência
Estender-me-ia ao tamanho de minhas inverdades
Ao som do que quero escutar
Odiarei a força dos que sabem ludibriar
Dos que mentem a vida que não sentem
Mas esquecerei que também minto
Verbalizo a mágoa que não tenho
Perco-a com a noite que não contemplo
Castigados os andarilhos errantes
Tomá-los-ei dos meus erros
Ainda.
Gotículas da fixação perdida
Escoam dos orifícios basaltiformes de meu organismo
Conquanto o tenha,
Na busca da baropneumodinâmica que o direciona é que o talvez perca.
O saudosista de memória curta
Inconstante permanece à deriva do pó
Sente perder-se em essência à mercê do que fora
Há quem me saiba, é o que temo
Pra quem é vã a complexidade proposital
Irritar-me-ia por decifrares o que encubro
Emaranhado entre os termos desconexos
Que não dizem aos outros, mas reluzem transparência
Ao que necessitaria segredá-los.
Não descobres que resguardo o mistério.
Pintaria da cor dos olhos que beijo
Fá-los-ia de ponta-cabeça
Do ângulo por qual vaga o que me dizem.
Silenciam.
Do silêncio cortante plurissignificativo
Não quer dizer de nada
É o tudo em mim
Quis que quisesse não ter querido
Mas não deixo de querer
E do quisto não me absteria
Não tenho culpados
Não tenho pena
Minha pena circunda a atmosfera dos seres
Eclode em mim por vezes
Faz-me insensível por sua ausência noutras
Dorme-se sobre os pensamentos
Fagocita-se só o memorável
Alimenta-se o Id
Mas não os nega, não.
Não será por medo
Mas pelo desejo de pular a que não atendeu
Desejo antigo
Dos outros tantos abafados
Que preservam este
Sente mais e cada vez além
Sorri quando a fúria é mais forte que a solidez da parede
Menos forte que a dor dos punhos
Mais fraca que o raciocínio controlável.
Oriunda da morte precoce
Renasceu do feito vangloriado
Menos, mais ou tanto do que fora
Não se sabe...
Mas tentarei escrever tua imagem
Com os traços que me destes
Do que creio e do que não.
Abala-me só a lembrança do que não conheci
Projeto do seu desenho que tomou seu espírito
Eternizo-o na memória que o não contemplou
Não o sei, porquanto o sinto
Desenharei o desenhista de mim
A julgar pela limitação de meus traços
Um personagem só...
Cuja audácia fez de si a vida que prometia
Pergunto-me se teve tempo de amar
Fi-lo em vão?

Tatiane Hirata

2 comentários:

Anônimo disse...

Às vezes palavras não são só palavras...

Kaísa disse...

Vc acende as palavras no escuro da imaginação da pessoas...tem o poder de transformar todas as palavras em fotograma.Quero ter uma filhinha igual a vc!!! rs.